quarta-feira, 4 de abril de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 9 - O Urso Pardo

(leia aqui)No capitulo anterior:

E só então os rapazes pareceram perceber a enrascada em que estavam metidos. Totalmente sem saber como agir diante de tantas criaturas que os devoravam com o olhar, enquanto babavam, só lhes restou gritar quando ouviram o rugido do maior e aparentemente mais forte deles.

Flégias e Mileno estavam perdidos... tão perdidos que mal sabiam o que fazer. A primeira reação do atirador foi sacar suas armas e tentar, em vão, afastar os ursos de si. Um deles simplesmente lançou suas companheiras para longe rugindo para o homem em seguida, que se encolheu, totalmente amedrontado. Vendo que Flégias era uma presa fácil, Milo sacou seu mosquete, mas também levou uma patada, perdendo a arma e o rumo. Determinado a não morrer de uma maneira tão miserável sem nem ao menos ver a cara do homem que havia virado sua vida de pernas para o ar, aproveitou que Flégias atraía a atenção dos ursos para si, ainda que sem intenção, gritando pálido como uma garotinha, Milo saltou para o lado, pegando o seu mosquete e pulando sobre as costas do urso que parecia ser o líder do bando.

O rapaz lutava bravamente para se manter nas costas do urso, que por sua vez fazia de tudo para arrancá-lo de si. Mas, curiosamente foi nesse momento, e tão somente nesse momento, que Mileno percebeu algo extremamente curioso. Desceu das costas do urso, correndo até Flégias e ficando na sua frente:

Ele ficou encarando Mileno e Flégias por algum tempo, meio sem ação. A decisão de Milo era firme, e mesmo se o dissessem que eram poucas as chances de poder vencer e salvar a irmã, ainda assim ele não demonstrava nenhum tipo de hesitação ou medo:

Durante os dois dias que se seguiram, Milo e Flégias tiveram a viagem acompanhada pelo rapaz e seus amigos ursos. Podia-se até mesmo dizer que estavam tornando-se grandes amigos!! O rapaz era muito engraçado... apesar de grande e forte, não parecia ter mais que a idade de Milo, e ainda demonstrava um grande e animado coração.

Então, no terceiro dia, Milo e Flégias já estavam na orla da floresta, prontos para seguir por uma estrada mais escondida, quando a hora da separação chegou. Eles se viraram para Pardo, esperando que ele chegasse mais perto, para então se despedirem:

Milo parou por um momento, encarando Flégias, que devolveu o mesmo olhar para o rapaz. Então, ele começou:

O rapaz deu um largo sorriso, antes de agarrar Mileno e Flégias num verdadeiro abraço de urso, feliz:

quarta-feira, 28 de março de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 8 - Amoras e Pingüins

(leia aqui)No capitulo anterior:

Assim, iniciava-se mais uma vez a longa jornada da dupla, porém agora como procurados da justiça. Os desafios agora seriam ainda maiores, mas, estavam preparados e decididos a não se deixar barrar por nada que surgisse no caminho!

Mileno encarou Flégias e suspirou. Estavam andando a horas, e o rapaz tinha certeza de que não chegariam à lugar nenhum daquele jeito. Percebendo o olhar incerto do jovem, Flégias estacou e sentou-se no chão, pegando o cantil e bebendo um pouco de água. Em seguida, o atirou para Mileno beber um pouco também, que logo começou:

Mileno saiu por aí, procurando por algo que pudesse ser comestível, mas o mais perto que chegou disso foi uma pequena amoreira, carregadas pelo doce fruto. Colheu algumas e apertou o passo em direção à clareira onde passariam a noite, que por sinal aproximava-se rápido. Quando chegou, encontrou Flégias montando uma fogueira para se aquecerem. Ambos se encararam, procurando ver o que o outro havia trazido... e aparentemente Flégias só tinha encontrado amoras também:

Milo apenas fez um gesto com a mão, em resposta. Fez o mesmo caminho que havia feito até chegar aos arbustos de amora e então encontrou seu relógio. Mas, ele estava pensativo sobre o porque de Flégias viver lhe dizendo para tomar cuidado com ursos. Desde que estavam andando pela floresta só haviam encontrado alguns pássaros e esquilos... parecia quase impossível que existissem ursos por ali, embora fosse simplesmente impossível que numa floresta tão grande não houvesse alguns ursos aqui e ali.

Ao retornar, passou mais algum tempo conversando com Flégias, antes de se ajeitar num canto perto da fogueira para dormir.

Na manhã seguinte, acordaram e arrumaram as malas para continuar a caminhada. Milo pegou o cantil para guardar; então, estranhando o peso, sacudiu-o, constatando que estava vazio. Como não podiam ficar sem água de jeito nenhum, logo comunicou à Flégias:

E só então os rapazes pareceram perceber a enrascada em que estavam metidos. Totalmente sem saber como agir diante de tantas criaturas que os devoravam com o olhar, enquanto babavam, só lhes restou gritar quando ouviram o rugido do maior e aparentemente mais forte deles.

quarta-feira, 21 de março de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 7 - Uma Batalha Explosiva

(leia aqui)No capitulo anterior:

Então, sacaram suas armas também. Mileno apenas concentrou-se numa maneira de enfrentar os dois... e o tempo era escasso. Dentro de poucas horas, Flégias seria executado.

A primeira atitude que Mileno tomou foi se afastar de dupla, e manter alguma distância seria preciso se quisesse escapar dos golpes de Bubu. Enquanto corria, pensando num plano, escapou de algumas setas de Mosca, que pareceu ficar irritado. Virou-se e mirou a besta que o homem usava, acertando um tiro de raspão. Porém, enquanto ficou parado para atirar, não percebeu a rápida aproximação de Bubu, conseguindo desviar apenas o suficiente para não tomar a potência inteira de um soco na têmpora. Levemente atordoado, cambaleou alguns passos, sendo atingido de raspão por uma seta no ombro esquerdo:

Bubu deu um sorriso debochado, enquanto se aproximava de Mileno. O rapaz atirou, mas, o tiro passou bem longe de acertar o homem alto e corpulento. Ele ajeitou sua adaga de soco na mão e avançou sobre Milo. Menos tonto do soco na têmpora, desviou para o lado e acertou um tiro no ombro de Bubu, que se afastou por causa da dor. Aproveitando-se disso, o rapaz aproveitou para chutar a adaga de soco no rio, enquanto engatilhava o mosquete para mais um tiro, dessa vez mirando Mosca. O homem encarou o rapaz um tanto quanto apreensivo, mas, acabou sorrindo quando notou a hesitação de Milo:

Com isso, Mosca sacou uma segunda besta e atirou em Mileno, atingindo-o na mão esquerda. Milo caiu no chão, tentando arrancar a seta de sua mão. Depois de conseguir, pegou o mosquete e atirou no braço direito de Mosca, que também caiu. Bubu, percebendo a situação, levantou-se e pulou sobre Mileno, que rolou no chão para o lado. Ele não tinha como carregar a arma e atirar antes que Bubu se lançasse sobre ele mais uma vez, então revirou a bolsa em busca de algo que pudesse ajudá-lo. E foi aí que percebeu uma coisa que não estava ali antes: uma pequena granada de mão. Provavelmente posta ali por Jack, com o intuito de ser de alguma ajuda para Mileno. Sem pestanejar, arrancou o pino da granada com os dentes e jogou em direção a Bubu e Mosca, que saíram correndo assim que perceberam que se tratava de uma granada. Subiram em seus quadriciclos e deram a partida, mas isso não foi o bastante para afastá-los da explosão, que os atirou para bem longe das vistas de Milo.

O rapaz se largou na grama, aliviado por tê-los vencido à tempo, e para sua inacreditável sorte a explosão chamou a atenção de alguns guardas da prisão, que saíram campo afora pelo portão do rio. Aproveitando a chance, Mileno lançou-se no barranco, escorregando até o rio e se dirigindo para a prisão o mais rápido que podia. Chegando lá dentro, usou o mosquete para bater no único guarda que havia ficado para trás, deixando-o inconsciente. Arrastou o homem para trás de uma pilastra, para evitar que fosse encontrado logo, e se colocou a subir cautelosamente a escadaria de pedra mal-iluminada.

As paredes úmidas e imundas formavam extensas galerias e corredores, por onde Mileno sentia algum dificuldade em transitar. Estava praticamente sem esperanças de encontrar Flégias o mais breve possível quando chegou a um corredor repleto de portas. Logo ali havia também um homem grande e gordo vestido de preto... talvez fosse um carrasco. Mas, o caso é que estava com as chaves, e isso era motivo o suficiente para se tornar um alvo. Milo encostou-se numa parede, abrindo a bolsa e pegando quatro balas. Com alguma demora e dificuldade conseguiu carregar o mosquete. Assim, foi até o corredor, ficando de frente para o carrasco. Apoiando a arma no braço esquerdo, já que não podia segurá-la com a mão, atirou, acertando o carrasco em cheio. Correu e pegou as chaves, indo de cela em cela até encontrar Flégias, que à essa altura encarava a porta, como se já esperasse ver o rosto de Mileno ali:

Flégias se deixou puxar até o corredor. Lançou um olhar ao carrasco morto, e depois à Mileno. Era difícil explicar, mas ele não se parecia tanto com o rapaz que havia encontrado na estrada no dia anterior. Ouvindo os passos dos guardas, arrancou o mosquete da mão de Milo e foi na frente, atirando nos mesmos. Quando a escada estava livre, fez um sinal para que Milo o acompanhasse; o rapaz andou até o homem e pegou o mosquete de volta, mexendo na bolsa e tirando dela as armas de Flégias:

Assim, os amigos saíram correndo pelos corredores tortuosos, distribuindo tiros para qualquer um que se colocasse em seu caminho como um obstáculo. Alguns guardas, mesmo presenciando o ocorrido, tinham suas dúvidas quanto à veracidade dos fatos. Aquela era a primeira fuga daquela prisão em anos!! E, dentre todas as fugas, a primeira a ser feita por uma única dupla de atiradores.

Já chegando ao portão do rio, ouviram as vozes dos guardas gritando: "Baixar o portão!!!", "Não deixe esses desgraçados saírem daqui!!!!", "Homens, preparar para o ataque!!" e outras coisas do gênero. Lançaram-se na água, nadando com todas as forças para não serem atingidos pelo portão que caía em direção às águas turvas. Em alguns minutos, estavam na orla da floresta. Correram mais alguns metros, até terem certeza que haviam despistado todos os seus perseguidores. Assim, deram mais alguns passos exaustos antes de se deixaram cair sentados no chão, recuperando o fôlego perdido. Depois de um tempo assim, Milo revirou a bolsa atrás de algumas bandagens, para a mão ferida. Flégias não conseguia deixar de rir, observando as tentativas fracassadas de Mileno em enfaixar direito a própria mão, e depois de se divertir bastante com a cena, pegou a faixa e puxou a mão de Milo sem muita delicadeza, para então terminar aquilo que o garoto havia tentado começar várias vezes:

Assim, iniciava-se mais uma vez a longa jornada da dupla, porém agora como procurados da justiça. Os desafios agora seriam ainda maiores, mas, estavam preparados e decididos a não se deixar barrar por nada que surgisse no caminho!

quarta-feira, 14 de março de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 6 - Eu vou te salvar!!

(leia aqui)No capitulo anterior:

Mileno não sabia o que fazer. Flégias estava simplesmente sendo levado. Ele tentou livrar o amigo das mãos dos guardas, alegando que este era inocente com certeza, mas, foi ignorado. Flégias lançou-lhe, ainda, um último olhar de censura antes de ser praticamente arrastado de sua casa para o local onde aguardaria por sua execução.

Mileno recuou alguns passos, caindo sentado no chão, sem saber o que fazer ao certo, enquanto fitava a porta aberta. Encarou o mosquete, sobre a mesa, que Flégias concertara. O pegou como se mirasse um alvo, verificando que mira estava alinhada corretamente. Então, procurou nos armários por algum tipo de bala que servisse; quando encontrou uma caixa, enfiou dentro da mochila, pendurou a arma no ombro e saiu, decidido a ajudar Flégias de qualquer forma, nem que para isso tivesse que invadir a prisão e arrancá-lo de lá.

Quando fechava a porta, notou que o tal Jack vinha em sua direção, aparentemente preocupado. O senhor parou de frente para Mileno, que começou:

Jack ficou um tempo calado, antes de sair andando e fazer um sinal para que Milo o seguisse. Eles andaram até o que parecia ser uma taverna, e Jack lhe disse que talvez encontrasse o Irmão Paolo por ali. O rapaz adentrou o lugar, um pouco receoso, e então procurou Paolo com o olhar. Ele estava com seus companheiros, numa mesa de canto, longe de toda a confusão e jogatina do centro da taverna, brindando e rindo alto. Mileno se aproximou do grupo, e chamou por Paolo algumas vezes, até perceber que era inútil: nem mesmo ele ouvia sua própria voz direito, com todo o barulho do lugar, que diria Irmão Paolo, que estava do outro lado da mesa. O rapaz pegou seu mosquete e atirou para cima, atraindo TODAS as atenções para si. Irmão Paolo o encarou de cima a baixo, enquanto fazia um sinal para que os outros voltassem a fazer o que estavam fazendo. Então, fez um outro sinal, chamando Mileno para mais perto:

O garoto lançou um último olhar antes de ir embora a Paolo, que comentou alguma coisa com seus homens e começou a gargalhar divertidamente, acompanhado de toda sua renca. Agora sim ele tinha certeza de que estava sozinho naquilo.

Foi andando, até que chegou à prisão; os muros altos de pedra que a cercavam eram fortemente protegidos por vários guardas armados. Mesmo que conseguisse galgar os muros, provavelmente levaria um tiro assim que chegasse ao topo, ou então bem antes disso. Foi circundando a prisão, procurando por alguma brecha que pudesse usar para entrar, e então avistou um canal que ligava a prisão a algum lugar na floresta ao além. Ali se encontrava um grande e pesado portão de ferro, já meio desgastado, mas que com certeza chegava até ao fundo do rio. Apesar disso, apenas um guarda tomava conta desse portão, o que poderia tornar as coisas pouco mais possíveis. Milo encarou o portão por longos instantes, antes de finalmente decidir o que faria.

Quando começou a andar em direção à parte mais afastada do rio, planejando mergulhar e nadar até a prisão, ouviu um ronco de motores. Ele se deteve, e olhou para os lados, preocupado, enquanto ouvia os sons ficando cada vez mais próximos de si. Ele não viu, mas conseguiu desviar a tempo de ser atropelado por dois quadriciclos. Enquanto se recuperava do susto, ouviu os motores sendo desligados, e duas vozes começaram, debochadas:

Milo encarava a dupla, quase incrédulo de tanta surpresa; nem em seus piores pesadelos ele imaginara que os únicos bandidos remanescentes do ataque de dias atrás pudessem voltar, provavelmente querendo vingança. Então, parecendo "acordar", empunhou o mosquete, ficando pronto para atacar:

Então, sacaram suas armas também. Mileno apenas concentrou-se numa maneira de enfrentar os dois... e o tempo era escasso. Dentro de poucas horas, Flégias seria executado.

quinta-feira, 8 de março de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 5 - Lembranças Dolorosas

(leia aqui)No capitulo anterior:

Algum tempo de caminhada depois, Mileno e Flégias chegaram até a próxima vila: Orinsburg. Andavam sem muita pressa, e Milo parecia realmente impressionado em ver uma vila maior e mais movimentada que Zyega:

E continuaram andando. O fato que mais deixava Mileno curioso era que a cada meio metro que andavam alguém cumprimentava Flégias, e ele respondia animado com um sorriso cordial no rosto. Ele realmente parecia ser conhecido e querido pelo povo de Orinsburg. Percebendo o olhar curioso de Mileno, ele sorriu, e começou:

Com isso, o velho deu uma risada também, com uma cara de que dizia: "esse garoto não toma jeito nunca...", e foi embora, apoiando-se em sua bengala de madeira.

Algum tempo mais andando, logo chegaram à casa de Flégias: por fora era bem simples e relativamente bem cuidada... ao menos o quão podia ser sendo habitada por um homem solteiro e sozinho. Por dentro era bem mobiliada, com alguns bolos de bagunça aqui e ali, como roupas e livros; de um lado da sala havia uma mesa, com papéis e materiais para a manutenção de armas. Do outro, uma pequena porta levava à cozinha e a adega. E, separado por um arco de madeira, estava o que parecia ser o ainda mais bagunçado quarto. Flégias largou sua capa e seu chapéu no cabideiro atrás da porta, e então se voltou para o rapaz que o acompanhava:

Assim comeram e beberam. Depois, Flégias começou a arrumar sua mala, e também fazer alguns ajustes em suas armas. Ele encarou Mileno, e fez um sinal o chamando para perto:

Milo não insistiu no assunto, vendo que Flégias não parecia muito à vontade. Assim, foi dormir.

Durante a madrugada, Flégias não conseguia pregar os olhos. As lembranças que haviam vindo à tona com a pergunta de Mileno eram praticamente insuportáveis. Levantou-se e olhou para o lado, onde Mileno estava deitado:

Milo suspirou, apenas limpando a mesa e colocando um cobertor nas costas de Flégias antes de ir dormir.

Na manhã seguinte, Flégias acordou dolorido dos pés à cabeça, e com uma dor de cabeça infernal. Conseguia ouvir Mileno, na cozinha, provavelmente preparando algo para comerem. O rapaz foi até a sala, cumprimentando Flégias:

Então, batidas na porta chamaram a atenção dos dois; Flégias fez uma careta de dor:

quinta-feira, 1 de março de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 4 - O Covil de Chakal

(leia aqui)No capitulo anterior:

E assim Mileno seguiu rumo à Elvengrado, agora acompanhado pelo excêntrico Flégias.

Mileno e Flégias seguiam seu caminho pela estrada. Depois de algum tempo, Flégias percebeu que o rapaz ao seu lado estava muito quieto, um tanto pensativo. Então, para quebrar o gelo, começou:


De todos que podiam chegar naquele momento, a Guarda de Elvengrado era a última coisa que os bandidos queriam ver. Preocupados com sua fuga, desmaiaram a refém com um golpe na nuca, e então correram até os seus quadriciclos, retornando para Jerrás, evitando todas as estradas principais.

Passaram pelos portões da cidade, e dirigiram-se diretamente até o palácio de Lorde Chakal. Um mensageiro os anunciou, e em pouco tempo estavam em frente ao já tão conhecido homem de olhar impetuoso, e de seu sádico braço direito. Ele se levantou quando os bandidos ajoelharam-se na sua frente, e então desceu alguns degraus da escada que o separava de seus subordinados:

Ela encarou os homens que estavam na sua frente: Chakal vestia calças pretas, sapatos de verniz, uma camisa social azul xadrez e um casaco lilás bem claro, quase branco. Os longos cabelos negros presos num rabo baixo, destacando ainda mais os claros olhos impetuosos, que pareciam ser capazes de atravessar a alma das pessoas. Já Zorak vestia-se com um casaco de veludo vermelho, com grades botões de madeira. Botas pretas longas por cima das calças, também pretas, além de um chapéu de pêlos marrom. Mas, independente das roupas que usavam, aquela dupla causava calafrios na menina:

O homem voltou até o salão principal, onde Lorde Chakal estava. Ele encarou o chefe, que começou:

Enquanto isso, Andréa desmontava a blindagem externa da grande caldeira. Passou tanto tempo apenas a desmontando que quase achou que seria impossível fazê-lo totalmente. Terminada essa primeira parte, começou a observar as emendas de canos, engrenagens e tubulações; à primeira vista, tudo estava na mais perfeita ordem. Rodeou a caldeira por mais algum tempo, antes de começar a pensar que talvez ela não estivesse quebrada, e que aquilo era apenas um teste. Assim, apertou o botão que colocaria a caldeira inteira para funcionar. Com um grande estrondo, uma enorme quantidade de fuligem e poeira negra voou em direção ao rosto de Andréa, que ficou apenas parada, tossindo, esperando a poeira baixar... "É... acho que ela está realmente quebrada...".

No salão principal, Zorak e Chakal gargalharam divertidamente, lembrando-se dos outros engenheiros que haviam feito a mesma coisa!:

Zorak deu uma ligeira revirada de olhos, e voltou ao seu caminho. Chegando na sala, encontrou Andréa afastada da caldeira, batendo na mão direita repetidas vezes, enquanto dizia rápido, quase sem pausas "aiquenojo, aiquenojo, aiquenojo...":

Chakal esperava o retorno de Zorak quando ouviu o barulho da caldeira funcionando. Então, o homem chegou na sala com Andréa ao seu lado, com uma expressão totalmente frustrada, devido ao sucesso da jovem:


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 3 - Flégias, o Rei da Estrada

(leia aqui)No capitulo anterior:

O rapaz não respondeu nada, apenas acompanhando o pai e o irmão mais velho. Estava sentindo-se culpado demais para responder ou pensar em qualquer outra coisa que não fosse que ele era o responsável por aquilo... Andréa... Andréa...

Uma semana sem Andréa. Uma semana com Mileno totalmente aéreo e de cama por causa do choque e da perna. Naquele fatídico dia, em que levaram Andréa, Mileno desmaiou pouco depois da chegada do pai, recuperando a consciência apenas com a dor aguda dos curativos que o médico fazia em seu joelho. Por mais que tenha ficado o tempo todo em seu quarto, o rapaz sabia do sofrimento de casa. Sabia que apenas estavam fingindo não sentir a perda de Andréa para não machucá-lo ainda mais, para não fazê-lo sentir-se culpado.

No terceiro dia após o rapto de Andréa, Amélia perguntou, com toda a sua inocência infantil:

Nesse momento, a sua irmã Larissa, que também estava lá, tratou logo de arrastar a pequena para fora do quarto. Mileno ainda conseguiu ouvi-la dizer algo para Lauro, que entrou logo em seguida:

Mas, Mileno não estava ouvindo nada desde a sinceridade cruel de sua irmãzinha. “É... Amie tem razão... todos nós estamos com saudades de Andréa... e a culpa é toda minha. Se eu não tivesse esquecido a chave... se eu não tivesse atirado... se eu não tivesse desistido tão fácil assim dela...”. Se... se... se... o rapaz não conseguia parar de fazer inúmeras suposições sobre o que devia ou não ter feito. E ficava pensando nisso todos os dias, a culpa aumentando a medida que seu joelho melhorava.

Naquela manhã, a senhora Folkor estava preparando o café do resto dos filhos quando ouviu a bandeja caindo no chão com um baque metálico, junto com o grito de horror de Lauro, que desceu as escadas correndo:


Mileno andava a passos rápidos e atentos pela estrada que levava à Elvengrado. Ele nunca havia se aventurado fora de Zyega antes, mas conhecia bem os rumores de que aquele trecho da estrada era especialmente inseguro. Concentrado em chegar rápido até a próxima vila, nem percebeu que estava sendo seguido... só quando dois indivíduos lhe barraram a passagem. Dois homens relativamente bem vestidos, com cortes sociais, chapéu na cabeça, cigarro na boca, e um sorriso maldoso no rosto. O primeiro parecia um pouco mais velho que o segundo, que tinha uma espada nas costas, e foi ele quem começou a falar:

Naquele momento, o Mileno pensou se não teria sido melhor simplesmente entregar as suas coisas. Fez menção de fugir para um dos lados da estrada, pulando as cercas, mas, não eram apenas elas que lhe impediam a fuga agora. O homem enorme ergueu o rapaz pela camisa, como se erguesse um filhote de gato vira-lata, e já se preparava para pegar suas coisas quando uma voz masculina se fez ouvir, num tom meio debochado:

Baby soltou Mileno de qualquer jeito no chão, enquanto ia embora, seguindo o bando do Irmão Paolo. O homem de chapéu chegou mais perto do rapaz e abaixou-se na sua frente, simpático:

E assim Mileno seguiu rumo à Elvengrado, agora acompanhado pelo excêntrico Flégias.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 2 - O Ataque da Matilha

(leia aqui)No capitulo anterior:

Mileno pensava numa maneira de tirar as irmãs da mercearia. Foi então que lembrou-se de algo:

Desceram as escadas cautelosamente, e conseguiram chegar até detrás do balcão na mesma hora em que os salteadores arrombaram a porta, com um estrondo! Mileno queria esperar que eles subissem até o depósito, para então saírem dali. Conseguiam ouvir sua conversa e seus risos enquanto pilhavam a mercearia, mas, para a total frustração dos irmãos apenas dois dos salteadores subiram até o depósito.

Então, começaram a ficar mais alardeados... um dos salteadores falou em ver se não havia algum dinheiro atrás do balcão da mercearia. O outro lhe respondeu que tudo bem, embora duvidasse que fosse encontrar algo, já que aquela mercearia era pequena. Assim, Mileno viu-se encurralado com a irmã em seus calcanhares. Abriu e arma e viu: apenas dois tiros restantes; um para cada um dos salteadores que estavam lá embaixo. Os passos do salteador que estava indo até o balcão ficavam cada vez altos, e então Mileno viu um homem alto e corpulento aparecer em sua frente. Sem nem ao menos pensar duas vezes, mirou e atirou.

O estrondo do tiro ecoou pelos tímpanos de Milo, que nunca tinha ouvido um tão de perto. O brutamontes imediatamente caiu no chão, com um buraco no peito e uma poça de sangue formando-se sob ele. Quando ouviu os salteadores que haviam subido largar as coisas, e descer as escadas, soube que aquele era o momento certo para atraí-los para longe da mercearia e de sua irmã. Levantou-se e saiu correndo em direção à janela, já que a porta estava fechada, e quebrou-a quando pulou em sua direção. E foi aí que ouviu o brado ensandecido do salteador que havia ficado lá embaixo, mandando que os outros dois pegassem Milo, mas não o matasse, pois ele mesmo queria o fazer tendo em vista que o baleado fora seu irmão.

Assim, enquanto corria sem nem ao menos olhar para trás, sentiu que algo atingia sua perna, tombando no meio da rua. A dor insuportável da seta que o atingira na dobra do joelho veio logo em seguida, quando Milo tentou se levantar denovo. Rastejou para pegar a arma que voara com o sua queda, mas alguém o puxou pela gola da camiseta, o erguendo:

Mileno estava apavorado. Só a idéia de que algo pudesse acontecer com sua irmã, por sua causa, lhe dava náuseas. Lembrando-se do que Garret havia lhe ensinado um pouco sobre luta, moveu a cabeça para trás, na tentativa de acertar o nariz do homem que o segurava. Teve certeza de seu êxito quando sentiu a dor de apoiar a perna ferida no chão, e com muito esforço chegou até a arma de seu pai e engatilhou, apontando o chefe. Aquele era seu último tiro, e ele não podia errar de jeito nenhum!! Puxou o gatilho e fechou os olhos, nervoso demais para saber se iria conseguir acertar ou não. Mas, a arma não disparou. Mergulhado em terror, ouviu um tiro... estava tudo perdido...

O chefe estava morto.

O rapaz ficou estático enquanto via a cena. Quem tinha matado o chefe se sua arma havia falhado? A resposta veio com os gritos dos salteadores restantes:

E assim os dois saíram correndo, levando Andréa de refém consigo.

Um dos atiradores da guarda o ajudou a ficar de pé, enquanto que o capitão da guarda deu algumas batidas em seu ombro:

Os moradores já haviam começado a voltar às ruas. Não demorou muito e o senhor Folkor chegou, junto com Lauro. Ele amparou o filho quando o guarda foi embora, e suspirou, inconformado com a perda de Andréa:

O rapaz não respondeu nada, apenas acompanhando o pai e o irmão mais velho. Estava sentindo-se culpado demais para responder ou pensar em qualquer outra coisa que não fosse que ele era o responsável por aquilo... Andréa... Andréa...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 1 - A Família Folkor

Mileno observava o céu azul de maneira displicente; a chuva da noite anterior havia afastado as nuvens de fumaça vindas da cidade que ainda começavam a se acumular. Conseguia ouvir as irmãs mais novas bagunçando no campo perto de casa, bem como a mãe começando a preparar o jantar. A tarde era agradável, e tudo indicava que, mais uma vez, o dia terminaria tranqüilamente na Vila Zyega.

Também, pudera.

Aquela era uma vila quase que exclusivamente agrária. Grande parte dos vegetais e animais lá produzidos eram enviados para as grandes cidades... principalmente para a capital Elvengrado. O pai de Mileno, o senhor Folkor, tinha uma pequena e bem localizada mercearia, onde ele vendia tudo aquilo que cultivava, ou então trocava por outras coisas, das quais estivesse necessitando no meio doméstico. A troca não era a forma mais comum de comércio no mundo... não mesmo! Tinham uma moeda única aceita em quase todos os países, o Rufo, mas, em vilas pequenas como Zyega, a troca ainda era muito popular entre os cidadãos.

De certa forma aquela vida entediava um pouco Mileno. As mesmas pessoas. Os mesmos assuntos. Sempre. Todos os dias de sua vida. Às vezes tinha vontade de simplesmente pegar suas coisas e ir embora, como havia feito seu irmão mais velho, sete anos atrás. Mas, não tinha coragem de largar a família na atual situação: o pai estava velho e doente, e tinha esperanças de que Mileno pudesse tocar a mercearia da família, afinal, ele era sua última opção. O pensamento conservador e machista do senhor Folkor não conseguia conceber uma de suas três filhas mais novas cuidando da mercearia... muito menos Lauro, seu segundo e avoado filho, mais preocupado com sua “arte” do que com coisas reais e concretas. Mesmo acreditando que cuidar da mercearia seriam seus grilhões para o resto da vida, Mileno não se opunha à vontade do pai.

O rapaz só foi trazido dos seus pensamentos quando sentiu um leve, mas duro, chute em suas costelas; olhou para cima e enxergou o rosto pálido, sério e sardento de sua irmã, Andréa:

Então, depois de colher as batatas, lá ia Mileno carregando a cesta, enquanto a irmã andava displicentemente ao seu lado.

Quando estavam próximos de casa, ouviram um som que lembrava um tiro. Aliás, não só lembrava como era o som de um tiro. O casal de irmãos se entreolhou, apreensivos; tiros não eram comuns em Zyega, dada a calma e tranqüilidade da vila. Apressaram o passo de volta para casa, e quando estavam chegando puderam ver a senhora Folkor encaminhando a filha mais nova para dentro de casa, preocupada. Tão logo viu Mileno e Andréa, os chamou:

Em poucos instantes estavam todos na cozinha da casa, com um pesado clima pairando sobre o ar. O pai de Milo havia ido até o sítio vizinho em busca de informações, e já voltara também. Salteadores estavam saqueando cada pequena loja que encontravam pelo caminho, e logo estariam na rua principal. A guarda da vila até que tentou detê-los, mas a calmaria os fez devagar demais para um combate, ainda que pela suas vidas, e agora estavam todos mortos. Por muito pouco o chefe da vila não conseguira avisar a cidade mais próxima do problema, embora não adiantasse muito. Até a ajuda chegar, provavelmente os salteadores já teriam saqueado tudo e partido:

Assim, Mileno correu até a mercearia do pai, sempre evitando as ruas principais. Quando chegou, se deu conta de que não havia trazido a chave da porta, e que a mesma estava trancada pelo lado de dentro. Provavelmente, obra de Amélia. O rapaz já se preparava para derrubar a porta quando alguém passou na sua frente e abriu a porta:

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Acendendo a Caldeira

Antes de tudo, seja bem-vindo à Vapor e Aço! Meu nome é Myunna e eu serei sua anfitriã e guia através das Nuvens do Progresso, um cenário Vaporpunk de RPG que está sendo criado na Taberna da Vaca.

Imagine um lugar abandonado pelos Deuses e pela Magia. Um lugar onde os homens escrevem a história à fogo com o colosso da engenharia: a Máquina à Vapor. Estados poderosos, armas de fogo, veículos voadores cruzando os céus, e ninguém se preocupa mais com os antigos valores. É nesse mundo que se desenrola a trama de As Sombras de Zyega, onde vocês poderão ver a história de um jovem morador de um pequeno vilarejo (Zyega), que um dia é empurrado pelo destino contra uma poderosa organização criminosa.

Aventuras regadas à tiros, companheirismo, suspense, e exemplos sobre-humanos de superação pessoal (porque, falemos a verdade, ninguém normal chegaria TÃO longe). A idéia inicial é termos um capitulo novo por semana, e eventualmente algum capitulo especial extra.

Então, a caldeira está acesa!! Corra para não perder o trem, porque essa é uma viagem sem volta!!