quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 1 - A Família Folkor

Mileno observava o céu azul de maneira displicente; a chuva da noite anterior havia afastado as nuvens de fumaça vindas da cidade que ainda começavam a se acumular. Conseguia ouvir as irmãs mais novas bagunçando no campo perto de casa, bem como a mãe começando a preparar o jantar. A tarde era agradável, e tudo indicava que, mais uma vez, o dia terminaria tranqüilamente na Vila Zyega.

Também, pudera.

Aquela era uma vila quase que exclusivamente agrária. Grande parte dos vegetais e animais lá produzidos eram enviados para as grandes cidades... principalmente para a capital Elvengrado. O pai de Mileno, o senhor Folkor, tinha uma pequena e bem localizada mercearia, onde ele vendia tudo aquilo que cultivava, ou então trocava por outras coisas, das quais estivesse necessitando no meio doméstico. A troca não era a forma mais comum de comércio no mundo... não mesmo! Tinham uma moeda única aceita em quase todos os países, o Rufo, mas, em vilas pequenas como Zyega, a troca ainda era muito popular entre os cidadãos.

De certa forma aquela vida entediava um pouco Mileno. As mesmas pessoas. Os mesmos assuntos. Sempre. Todos os dias de sua vida. Às vezes tinha vontade de simplesmente pegar suas coisas e ir embora, como havia feito seu irmão mais velho, sete anos atrás. Mas, não tinha coragem de largar a família na atual situação: o pai estava velho e doente, e tinha esperanças de que Mileno pudesse tocar a mercearia da família, afinal, ele era sua última opção. O pensamento conservador e machista do senhor Folkor não conseguia conceber uma de suas três filhas mais novas cuidando da mercearia... muito menos Lauro, seu segundo e avoado filho, mais preocupado com sua “arte” do que com coisas reais e concretas. Mesmo acreditando que cuidar da mercearia seriam seus grilhões para o resto da vida, Mileno não se opunha à vontade do pai.

O rapaz só foi trazido dos seus pensamentos quando sentiu um leve, mas duro, chute em suas costelas; olhou para cima e enxergou o rosto pálido, sério e sardento de sua irmã, Andréa:

Então, depois de colher as batatas, lá ia Mileno carregando a cesta, enquanto a irmã andava displicentemente ao seu lado.

Quando estavam próximos de casa, ouviram um som que lembrava um tiro. Aliás, não só lembrava como era o som de um tiro. O casal de irmãos se entreolhou, apreensivos; tiros não eram comuns em Zyega, dada a calma e tranqüilidade da vila. Apressaram o passo de volta para casa, e quando estavam chegando puderam ver a senhora Folkor encaminhando a filha mais nova para dentro de casa, preocupada. Tão logo viu Mileno e Andréa, os chamou:

Em poucos instantes estavam todos na cozinha da casa, com um pesado clima pairando sobre o ar. O pai de Milo havia ido até o sítio vizinho em busca de informações, e já voltara também. Salteadores estavam saqueando cada pequena loja que encontravam pelo caminho, e logo estariam na rua principal. A guarda da vila até que tentou detê-los, mas a calmaria os fez devagar demais para um combate, ainda que pela suas vidas, e agora estavam todos mortos. Por muito pouco o chefe da vila não conseguira avisar a cidade mais próxima do problema, embora não adiantasse muito. Até a ajuda chegar, provavelmente os salteadores já teriam saqueado tudo e partido:

Assim, Mileno correu até a mercearia do pai, sempre evitando as ruas principais. Quando chegou, se deu conta de que não havia trazido a chave da porta, e que a mesma estava trancada pelo lado de dentro. Provavelmente, obra de Amélia. O rapaz já se preparava para derrubar a porta quando alguém passou na sua frente e abriu a porta:

Um comentário:

Emilia Kesheh disse...

Hmmmmmm..... legal!!!!!
*ansiosa por mais*