(leia aqui)No capitulo anterior:
- "Só"? - e sorriu, descontraído - considere-o feito, Milo!! - e então apertou a mão de Mileno, como forma de firmarem o acordo.
- Ótimo isso Flégias, mas, será que podia soltar a minha mão? Tá apertando a machucada... - Milo tinha uma expressão de dor condita no rosto.
- Poutz!! Foi mal!!! - e soltou a mão de Mileno na hora, com um sorriso sem-graça.
- Ah... tudo bem...
Assim, iniciava-se mais uma vez a longa jornada da dupla, porém agora como procurados da justiça. Os desafios agora seriam ainda maiores, mas, estavam preparados e decididos a não se deixar barrar por nada que surgisse no caminho!
Mileno encarou Flégias e suspirou. Estavam andando a horas, e o rapaz tinha certeza de que não chegariam à lugar nenhum daquele jeito. Percebendo o olhar incerto do jovem, Flégias estacou e sentou-se no chão, pegando o cantil e bebendo um pouco de água. Em seguida, o atirou para Mileno beber um pouco também, que logo começou:
- Flégias... você sabe exatamente para onde temos que ir? Parece que desde que chegamos aqui estamos andando à toa.
- Sei que temos que ir para o Sul. Isso não é o bastante pra você?
- Na realidade, não. - e suspirou, inconformado - como é que vamos chegar em Elvengrado à tempo assim?
- Que história é essa de "à tempo"?! Ainda tem mais essa?
- É... tem. Dentro de uma semana o rei vai reunir todos os governantes de todas as províncias de Zyega... e Chakal vai estar lá.
- E você pretendia, sozinho, dar cabo de Chakal no meio da província mais bem protegida de todo o país?! Você é burro ou o quê?!
- Claro que eu não pretendia fazer isso!!! O que eu pretendia era seguir Chakal de lá até seu covil, pra poder encontrar a Andréa!!
- Espera... espera aí! Tá me dizendo que esse tempo todo você queria ir pra Elvengrado praticamente de alegre? - Flégias bateu com a mão na testa - vai me dizer que não sabe onde Chakal vive?
- Não, oras!! Até semana passada eu era apenas um simples morador de Zyega... nem fazia idéia da existência do Chakal!!!
- Isso é inacreditável demais pra mim. - e balançou a cabeça, ainda mais inconformado - bem... acho que seria bem mais fácil e rápido então irmos direto para Jerrás, a província de Chakal. As chances de encontrarmos ele, independente do tempo, são totalmente maiores. - e então deu risada - sabia que eu estava achando estranho demais você querer se enfiar em Elvengrado... ahahahahahahaha!!!!
- Se achou estranho, por quê não perguntou nada?! - Mileno se irritou, mas, logo recuperou a calma, desistindo de discutir com Flégias, já que não serviria para nada - Ok... então, vamos mudar o nosso curso para Jerrás.
- Muito sensato de sua parte fazer isso. Agora, já que estamos parados por aqui mesmo, vamos procurar alguma coisa para comer. Estou começando a ficar com fome.
- Procurar alguma coisa pra comer? - Milo encarou a própria mochila, no chão, de relance - mas, e o que eu trouxe?
- Não sabemos quanto tempo vamos demorar aqui, exatamente. A água nem tem como economizar, mas podemos procurar por frutas e outras coisas para comer. Assim, sobra comida pra alguma emergência.
- Certo... faz sentido.
- Então, vamos. Vou por aqui, e você por ali. - e quando estava se separando do rapaz, acrescentou - e tome cuidado com os ursos!
- Tá...!
Mileno saiu por aí, procurando por algo que pudesse ser comestível, mas o mais perto que chegou disso foi uma pequena amoreira, carregadas pelo doce fruto. Colheu algumas e apertou o passo em direção à clareira onde passariam a noite, que por sinal aproximava-se rápido. Quando chegou, encontrou Flégias montando uma fogueira para se aquecerem. Ambos se encararam, procurando ver o que o outro havia trazido... e aparentemente Flégias só tinha encontrado amoras também:
- O quê?! Mas, você achou só isso?! - exclamaram os dois rapazes ao mesmo tempo.
- Achei que você fosse trazer alguma coisa que não fossem amoras!! - exclamaram mais uma vez ao mesmo tempo. Então, calaram-se, antes de começar a rir da situação.
- Ahahahahaha!!! Essa é muito boa! Pelo jeito vamos ter que nos contentar só com essas amoras mesmo!!! - Flégias então jogou para Milo um saco com as amoras que colhera.
- Tenho a impressão que vamos ter que comer as provisões de emergência bem antes do planejado...!!! - Milo ria também, então, pegou o cantil e bebeu mais água.
- Nem brinque com isso! Lembre-se que são para emergência! Emergência, entendeu? Ainda não estamos numa situação tão alarmante... podemos comer amoras até sair daqui!!
- Não... não podemos não! Vamos acabar virando zumbis na metade do caminho!!
- Que exagerado. Vamos perder alguns quilos... só isso. - e então encarou o magrelo a sua frente - se bem que, no seu caso, isso pode ser perigoso! - e deu risada.
- Há, há. - Milo riu com sarcasmo - muito engraçado.
- O quê... vai dizer que não é verdade? - e pegou o cantil - aliás, até acho estranho você ser tão magro assim. Gente do interior é que tem aquela mania de que uns quilos a mais é sinal de beleza... e você não é o exemplo de, como é que falam mesmo? Ah... é! Você não é o exemplo de rapaz "viçoso".
- Ah não? Obrigado pela parte que me toca. - e então tateou os bolsos em busca de seu relógio, mas, não conseguiu encontrá-lo - ué...
- O que foi?
- Meu relógio. Devo ter deixado cair lá traz, enquanto pegava as amoras.
- Vá buscar então. Te garanto que ainda deve estar lá. Aproveite enquanto ainda tem um pouco de luz do sol. - e então, quando via Milo ir atrás de seu relógio, lembrou-se de acrescentar - é verdade... e tome cuidado com os ursos!
Milo apenas fez um gesto com a mão, em resposta. Fez o mesmo caminho que havia feito até chegar aos arbustos de amora e então encontrou seu relógio. Mas, ele estava pensativo sobre o porque de Flégias viver lhe dizendo para tomar cuidado com ursos. Desde que estavam andando pela floresta só haviam encontrado alguns pássaros e esquilos... parecia quase impossível que existissem ursos por ali, embora fosse simplesmente impossível que numa floresta tão grande não houvesse alguns ursos aqui e ali.
Ao retornar, passou mais algum tempo conversando com Flégias, antes de se ajeitar num canto perto da fogueira para dormir.
Na manhã seguinte, acordaram e arrumaram as malas para continuar a caminhada. Milo pegou o cantil para guardar; então, estranhando o peso, sacudiu-o, constatando que estava vazio. Como não podiam ficar sem água de jeito nenhum, logo comunicou à Flégias:
- Flégias... nossa água acabou. Por um acaso viu algum riacho ou algo do tipo por aí?
- Vi sim. Vamos sair um pouco do caminho, mas podemos passar por ele. - e se colocou a andar em direção ao tal riacho.
- Aliás, tem uma coisa que eu queria te perguntar...
- O que? - e então encarou o rapaz de relance, procurando se concentrar no caminho que havia feito até o riacho.
- Por que você sempre me fala para ter cuidado com os ursos? - e tratou de acrescentar rápido, antes que Flégias explicasse - entendo você dizer isso uma vez, já que não conheço nada por aqui, mas mais que isso é um exagero. Não esqueço as coisas tão fácil assim.
- É... já sei que de cabeça de vento você só tem cara. - e deu um sorriso sacana, antes de explicar - mas, eu digo isso porque ouvi dizer que os ursos daqui têm se organizado.
- Organizado? Se organizado como? Ursos não vivem a maior parte da vida sozinhos? - Milo estacou no caminho, intrigado com aquela afirmação.
- Pois é. Mas um pessoal andou dizendo, lá em Orinsburg, que agora tem uns ursos andando em bando, como uma matilha... ou então pingüins!
- Como uma matilha? Eles estão roendo ossos e uivando também? - Milo encarou o homem a sua frente, curioso - e, o que são esses tais pingüins? São parentes dos ursos?
- Não... eles não estão roendo ossos e nem uivando. Não é só porque estão em bando que deixaram de ser ursos, oras. E pingüins também não são parentes dos ursos... foi só pra fazer uma comparação.
- E pingüins andam em bandos?
- Sim. É o jeito que eles arrumaram pra sobreviver, já que vivem em lugares muito frios e... - e então parou, prestando atenção no que estava dizendo - peraí Milo! Assim você me desvia do propósito!!!
- Você que resolveu me dar essa aula sobre pingüins...
- Tá. Agora cala a boca e me ouve! - e esfregou o rosto, percebendo como Milo conseguira o tirar do sério, e o quanto parecia vitorioso com isso - Certo... onde eu parei? Ah, sim! Os ursos estão andando em bando... e atacando em bando também. Por isso disse tantas vezes pra tomar cuidado.
- Ah sei...
- É... disseram que eles têm cercado as presas, e atacado de uma vez...
- Cercado? Como esses ursos estão fazendo agora? - e então indicou um bando de enormes ursos pardos, cercando-os.
- Exatamente!!
E só então os rapazes pareceram perceber a enrascada em que estavam metidos. Totalmente sem saber como agir diante de tantas criaturas que os devoravam com o olhar, enquanto babavam, só lhes restou gritar quando ouviram o rugido do maior e aparentemente mais forte deles.