quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

As Sombras de Zyega - Cap. 3 - Flégias, o Rei da Estrada

(leia aqui)No capitulo anterior:

O rapaz não respondeu nada, apenas acompanhando o pai e o irmão mais velho. Estava sentindo-se culpado demais para responder ou pensar em qualquer outra coisa que não fosse que ele era o responsável por aquilo... Andréa... Andréa...

Uma semana sem Andréa. Uma semana com Mileno totalmente aéreo e de cama por causa do choque e da perna. Naquele fatídico dia, em que levaram Andréa, Mileno desmaiou pouco depois da chegada do pai, recuperando a consciência apenas com a dor aguda dos curativos que o médico fazia em seu joelho. Por mais que tenha ficado o tempo todo em seu quarto, o rapaz sabia do sofrimento de casa. Sabia que apenas estavam fingindo não sentir a perda de Andréa para não machucá-lo ainda mais, para não fazê-lo sentir-se culpado.

No terceiro dia após o rapto de Andréa, Amélia perguntou, com toda a sua inocência infantil:

Nesse momento, a sua irmã Larissa, que também estava lá, tratou logo de arrastar a pequena para fora do quarto. Mileno ainda conseguiu ouvi-la dizer algo para Lauro, que entrou logo em seguida:

Mas, Mileno não estava ouvindo nada desde a sinceridade cruel de sua irmãzinha. “É... Amie tem razão... todos nós estamos com saudades de Andréa... e a culpa é toda minha. Se eu não tivesse esquecido a chave... se eu não tivesse atirado... se eu não tivesse desistido tão fácil assim dela...”. Se... se... se... o rapaz não conseguia parar de fazer inúmeras suposições sobre o que devia ou não ter feito. E ficava pensando nisso todos os dias, a culpa aumentando a medida que seu joelho melhorava.

Naquela manhã, a senhora Folkor estava preparando o café do resto dos filhos quando ouviu a bandeja caindo no chão com um baque metálico, junto com o grito de horror de Lauro, que desceu as escadas correndo:


Mileno andava a passos rápidos e atentos pela estrada que levava à Elvengrado. Ele nunca havia se aventurado fora de Zyega antes, mas conhecia bem os rumores de que aquele trecho da estrada era especialmente inseguro. Concentrado em chegar rápido até a próxima vila, nem percebeu que estava sendo seguido... só quando dois indivíduos lhe barraram a passagem. Dois homens relativamente bem vestidos, com cortes sociais, chapéu na cabeça, cigarro na boca, e um sorriso maldoso no rosto. O primeiro parecia um pouco mais velho que o segundo, que tinha uma espada nas costas, e foi ele quem começou a falar:

Naquele momento, o Mileno pensou se não teria sido melhor simplesmente entregar as suas coisas. Fez menção de fugir para um dos lados da estrada, pulando as cercas, mas, não eram apenas elas que lhe impediam a fuga agora. O homem enorme ergueu o rapaz pela camisa, como se erguesse um filhote de gato vira-lata, e já se preparava para pegar suas coisas quando uma voz masculina se fez ouvir, num tom meio debochado:

Baby soltou Mileno de qualquer jeito no chão, enquanto ia embora, seguindo o bando do Irmão Paolo. O homem de chapéu chegou mais perto do rapaz e abaixou-se na sua frente, simpático:

E assim Mileno seguiu rumo à Elvengrado, agora acompanhado pelo excêntrico Flégias.