(leia aqui)No capitulo anterior:
- Esquenta não guri... a gente vai lá buscar ela.
- O quê?! Você vai comigo?! - Mileno sorriu, encarando Flégias, que desconversou.
- Não, não! Eu disse você! Você vai lá buscar ela!!!
- Mas, eu ouvi muito bem você dizendo a gente...
Algum tempo de caminhada depois, Mileno e Flégias chegaram até a próxima vila: Orinsburg. Andavam sem muita pressa, e Milo parecia realmente impressionado em ver uma vila maior e mais movimentada que Zyega:
- E então, guri? Achando o que de Orinsburg? Bem mais agitada que Zyega não?
- Totalmente! Nesse horário nem tínhamos mais movimento nas ruas...
- Jura? Zyega é um finzinho de mundo então... credo...
E continuaram andando. O fato que mais deixava Mileno curioso era que a cada meio metro que andavam alguém cumprimentava Flégias, e ele respondia animado com um sorriso cordial no rosto. Ele realmente parecia ser conhecido e querido pelo povo de Orinsburg. Percebendo o olhar curioso de Mileno, ele sorriu, e começou:
- Não disse que era o Rei da Estrada? Reis têm prestígio e são queridos pelas pessoas! - e piscou com um olho só, divertido.
- Ah! Pois é... - Mileno concordou.
- É que eu cresci e me criei aqui. Já fiz favor pra muita gente, e muita gente me deve favor... acho que em Zyega deve ser assim também.
- É... é mais ou menos assim também.
- Bom... nós vamos dar uma parada na minha casa antes de seguirmos viagem. Tenho que pegar algumas coisas. Passamos a noite lá e depois vamos.
- Ei! Flégias!! - chamou alguém, se aproximando
- Ora! E não é o velho Jack! - e Flégias cumprimentou o senhor - fazia tempo que não o via, velho.
- Sim... fazia mesmo... - e o senhor encarou Mileno - e quem é você, rapaz?
- Me chamo Mileno Folkor. Prazer. - e estendeu a mão.
- Nah... não precisa ser tão formal rapaz. Este velho aqui não tem essas frescuras. - Jack fez um gesto displicente, antes de voltar-se sério para Flégias - Ouça garoto, que tipo de confusão você anda se metendo?
- Nada demais, Jack. Só o de sempre, você sabe. Por quê? Algum problema?
- Eu não tenho certeza. É que hoje dois oficiais de Elvengrado estiveram aqui, te procurando. Imaginei que pudesse estar encrencado.
- Não deve ser nada importante. E se for, eles não demoram a aparecer denovo.
- Tome cuidado então, garoto. Sabe que tem gente nessa cidade que quer mais é te ver pelas costas... - Flégias deu risada.
- Ahahaha! Claro... porque eu sou lindo, gostoso e boa pinta!
Com isso, o velho deu uma risada também, com uma cara de que dizia: "esse garoto não toma jeito nunca...", e foi embora, apoiando-se em sua bengala de madeira.
Algum tempo mais andando, logo chegaram à casa de Flégias: por fora era bem simples e relativamente bem cuidada... ao menos o quão podia ser sendo habitada por um homem solteiro e sozinho. Por dentro era bem mobiliada, com alguns bolos de bagunça aqui e ali, como roupas e livros; de um lado da sala havia uma mesa, com papéis e materiais para a manutenção de armas. Do outro, uma pequena porta levava à cozinha e a adega. E, separado por um arco de madeira, estava o que parecia ser o ainda mais bagunçado quarto. Flégias largou sua capa e seu chapéu no cabideiro atrás da porta, e então se voltou para o rapaz que o acompanhava:
- Seja bem-vindo ao meu lar-doce-lar! Pode deixar suas coisas aí, em qualquer canto. E, bem, não repare muito na bagunça, fique à vontade.
- Ah, tudo bem.
- Está com fome? Porque eu estou faminto... - e foi indo pra cozinha - não sou o melhor cozinheiro do mundo, é verdade, mas até que me viro bem...
Assim comeram e beberam. Depois, Flégias começou a arrumar sua mala, e também fazer alguns ajustes em suas armas. Ele encarou Mileno, e fez um sinal o chamando para perto:
- Deixa eu dar uma olhada no seu mosquete. Deve estar precisando de alguns cuidados...
- É verdade. - e entregou a arma ao homem - ele é bem antigo... meu pai o ganhou há muitos anos, e sempre o deixou exposto, como um troféu sabe?
- Imagino. - e desmontou o cano da arma, dando uma olhada crítica - isso tem mais poeira do que as cortinas da minha sala. Mas, tem salvação. - e então encarou Mileno, que já tinha os olhos caídos de cansaço - escuta... não é só porque eu estou acordado que você precisa ficar também. Pode ir dormir se quiser.
- Ok. Acho que vou dormir então. Estou cansado.
- Percebi!! - e deu risada - é normal... crianças têm que dormir bastante pra crescerem fortes e saudáveis!!
- Pois é... - e concordou, meio desdenhoso; então, reparou numa foto sobre a escrivaninha: era Flégias, provavelmente com 12 ou 13 anos de idade, e ao seu lado estava uma bonita moça mais velha, de cabelos longos e presos num meio rabo, usando um vestido simples e discreto, sorrindo - Flégias... quem é essa com você, na foto?
- Quem é...? - e então se levantou da mesa, pegando o porta-retrato da mão de Mileno e permanecendo calado por um tempo, antes de sorrir - ninguém importante! Nem me lembrava mais dessa foto! - e deu risada, colocando o porta-retrato de volta no lugar - é verdade... se precisar de mais cobertores, vai encontrar naquele armário. - e indicou com a cabeça - boa noite, guri.
- Tá. Boa noite.
Milo não insistiu no assunto, vendo que Flégias não parecia muito à vontade. Assim, foi dormir.
Durante a madrugada, Flégias não conseguia pregar os olhos. As lembranças que haviam vindo à tona com a pergunta de Mileno eram praticamente insuportáveis. Levantou-se e olhou para o lado, onde Mileno estava deitado:
- Ei... guri! Você está dormindo?
- Ahn...? - e virou-se para Flégias, meio grogue de sono - é... tava. O que foi?
- É que não estava conseguindo dormir.
- E...? - Mileno ainda não havia entendido.
- Certo. - e suspirou - aquela na foto é a minha irmã mais velha, Prisca.
- Jura? - e sentou-se, encarando Flégias, já sem tanto sono assim - você tem uma irmã então?
- Bem... eu tinha. - e então encheu uma cabaça com o conhaque que mantinha num grande barril, sentando-se na mesa e enchendo dois copos - senta aí. Vou te contar uma história.
- Tá bom. - e sentou-se de frente para Flégias, que bebeu alguns goles de conhaque.
- Eu e Prisca éramos sozinhos. Depois que os nossos pais morreram, quanto eu devia ter uns quatro anos, foi ela quem praticamente me criou. E pra mim ela era como uma mãe, realmente. As coisas não eram tão fáceis, mas ela sempre teve o dom de conseguir enxergar o lado bom de tudo. Era ela quem sempre me animava... - e fez uma pausa, bebendo mais e enchendo o copo novamente - mas um dia, aconteceu.
- Aconteceu? Aconteceu o que?
- Ela trabalhava numa granja de galinhas. Era ela quem as alimentava todos os dias. Só que, naquele dia, o ajudante do entregador tinha ficado doente, e ele precisava que alguém o acompanhasse até a próxima vila. Prisca resolveu ajudar, já que ela já tinha terminado todas as suas tarefas. - e bebeu mais, já dando sinais de estar "alto" - mas, na ida, eles foram atacados por um grupo de bandidos da estrada. Eles roubaram toda a carga... e também mataram o entregador e a Prisca...
- E-eu sinto muito...
- Esses bandidos trabalhavam para o Lorde Chakal. Desde esse dia, não houve um só momento em que eu não tivesse o amaldiçoado... - e terminou o copo de uma só vez, enchendo-o mais uma vez - por isso é que eu resolvi te ajudar...
- Entendo. - e então suspirou, encarando o homem já bêbado - Flégias... será que você devia mesmo beber tanto essa hora?
- Não tem problema nenhum não... - e então, virou o copo, derramando todo o seu conteúdo - Poutz... acho que essa mesa tá torta...
- Não Flégias. Você que está bêbado. Devia dormir.
- Eu tô legal... além do mais, se você dorme a ressaca é muito pior... - mas, acabou cochilando sobre a mesa mesmo, totalmente exausto.
Milo suspirou, apenas limpando a mesa e colocando um cobertor nas costas de Flégias antes de ir dormir.
Na manhã seguinte, Flégias acordou dolorido dos pés à cabeça, e com uma dor de cabeça infernal. Conseguia ouvir Mileno, na cozinha, provavelmente preparando algo para comerem. O rapaz foi até a sala, cumprimentando Flégias:
- Ah! Já acordou então.
- Antes estivesse dormindo ainda. Que ressaca maldita...
- Imagino. - e Milo deu risada - o café tá quase pronto... vai te fazer sentir melhor.
- Tomara... - e o homem se levantou, caminhando até o sofá e se jogando no mesmo
Então, batidas na porta chamaram a atenção dos dois; Flégias fez uma careta de dor:
- Porra Mileno... para de bater as coisas aí... minha cabeça tá me matando.
- Não fui eu... bateram na porta.
- Então atende lá, por favor. E se for pra mim, fala que eu morri.
- E pra quem mais seria? - e atendeu a porta; dois homens estavam ali parados. Um deles olhou uma foto, e então encarou Mileno
- É aqui que mora um tal Flégias?
- É sim. Mas, agora ele... - mas, antes que pudesse terminar, os homens o afastaram, entrando na casa e caminhando até a sala; Flégias os encarou, sentando-se direito no sofá.
- Ora, ora... em que posso ajudá-los, senhores oficiais de Elvengrado?
- Você, Flégias, é acusado do assassinato de Robert Cardigan, e segundo a Lei, você será executado ao pôr-do-sol.
3 comentários:
E agora Josué, o que vai acontecer com o coitado do Flégias?
Quero ver agora o piá ir sozinho lá.
Tá muito legal a história.
Até o/
"Piá"? Essa é boa! =D
Pois é... o Mileno vai ter que se coçar...
uhahauhauhauauhua
eh mesmo... se ferrou ele :P
agora o Flégias tá bem mais ferrado que ele.... huehueheuhuehue
té
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