(leia aqui)No capitulo anterior:
- Você fez o que podia, Mileno. De qualquer maneira, eles teriam levado uma de suas irmãs. Era inevitável. Vamos voltar para casa e cuidar do seu joelho... sua mãe e suas irmãs estão preocupadas.
O rapaz não respondeu nada, apenas acompanhando o pai e o irmão mais velho. Estava sentindo-se culpado demais para responder ou pensar em qualquer outra coisa que não fosse que ele era o responsável por aquilo... Andréa... Andréa...
- Lauro querido, leve isto para seu irmão, sim? – a senhora Folkor entregou para o filho uma bandeja com o café da manhã para Mileno.
- Sim mamãe! – e pegou a bandeja, subindo as escadas alegremente, enquanto cantarolava – Mileeeenooooo!!! Já estou indo com a sua comidinhaaaaa!!!!
Uma semana sem Andréa. Uma semana com Mileno totalmente aéreo e de cama por causa do choque e da perna. Naquele fatídico dia, em que levaram Andréa, Mileno desmaiou pouco depois da chegada do pai, recuperando a consciência apenas com a dor aguda dos curativos que o médico fazia em seu joelho. Por mais que tenha ficado o tempo todo em seu quarto, o rapaz sabia do sofrimento de casa. Sabia que apenas estavam fingindo não sentir a perda de Andréa para não machucá-lo ainda mais, para não fazê-lo sentir-se culpado.
No terceiro dia após o rapto de Andréa, Amélia perguntou, com toda a sua inocência infantil:
- Mano, quando a Déia vai voltar pra casa? Tô com saudades dela...
Nesse momento, a sua irmã Larissa, que também estava lá, tratou logo de arrastar a pequena para fora do quarto. Mileno ainda conseguiu ouvi-la dizer algo para Lauro, que entrou logo em seguida:
- Miloooooooooo!!!! Quer ouvir o poema ma-ra-vi-lho-so que eu acabei de escrever?! Ah! Como eu sou tolinho... é claro que quer, não é?! “Rosas são vermelhas, violetas...”
Mas, Mileno não estava ouvindo nada desde a sinceridade cruel de sua irmãzinha. “É... Amie tem razão... todos nós estamos com saudades de Andréa... e a culpa é toda minha. Se eu não tivesse esquecido a chave... se eu não tivesse atirado... se eu não tivesse desistido tão fácil assim dela...”. Se... se... se... o rapaz não conseguia parar de fazer inúmeras suposições sobre o que devia ou não ter feito. E ficava pensando nisso todos os dias, a culpa aumentando a medida que seu joelho melhorava.
Naquela manhã, a senhora Folkor estava preparando o café do resto dos filhos quando ouviu a bandeja caindo no chão com um baque metálico, junto com o grito de horror de Lauro, que desceu as escadas correndo:
- Mamãe! Mamãe!!!
- Que é isso, Lauro! Acalme-se! O que foi que aconteceu??
- O Mileno!!! – Lauro estava nervoso e frenético – roubaram o Mileno!!!
- Como? – Monique encarou o filho, incrédula.
- O que ouviu, mamãe!!! Cheguei lá, e a janela estava aberta e ele não estava lá! Tá na cara que alguém roubou ele!!!! – Lauro começou a chorar copiosamente.
- Ah... então aconteceu o que eu temia. – o senhor Folkor veio da sala, sério – só espero que ele consiga encontrar Andréa e volte bem...
Mileno andava a passos rápidos e atentos pela estrada que levava à Elvengrado. Ele nunca havia se aventurado fora de Zyega antes, mas conhecia bem os rumores de que aquele trecho da estrada era especialmente inseguro. Concentrado em chegar rápido até a próxima vila, nem percebeu que estava sendo seguido... só quando dois indivíduos lhe barraram a passagem. Dois homens relativamente bem vestidos, com cortes sociais, chapéu na cabeça, cigarro na boca, e um sorriso maldoso no rosto. O primeiro parecia um pouco mais velho que o segundo, que tinha uma espada nas costas, e foi ele quem começou a falar:
- Muito bem, rapaz. Isso pode ser do jeito difícil ou do jeito fácil. Passe tudo o que você tem!
- Eu só quero chegar até a próxima vila ainda hoje, não tenho nada pra tratar com vocês... – e Mileno recuou alguns passos, enquanto sacava o trabuco e apontava para os dois.
- Então você escolhe o jeito difícil? Que bom... estava cansado daqueles covardões de sempre... e o Baby também.
- Baby? – Mileno olhou para trás quando sentiu o chão tremer; um homem com braços de ferro e penteado moicano, que devia ser no mínimo três vezes mais alto e quatro vezes mais largo que o rapaz, deu um sorriso débil.
Naquele momento, o Mileno pensou se não teria sido melhor simplesmente entregar as suas coisas. Fez menção de fugir para um dos lados da estrada, pulando as cercas, mas, não eram apenas elas que lhe impediam a fuga agora. O homem enorme ergueu o rapaz pela camisa, como se erguesse um filhote de gato vira-lata, e já se preparava para pegar suas coisas quando uma voz masculina se fez ouvir, num tom meio debochado:
- Dói-me o coração ver a que ponto os ladrões dessas bandas chegaram. Assaltando meninos que mal saíram das fraldas... não se envergonha disso, Irmão Paolo?
- Você denovo?! – e encarou o homem que chegava levantando o chapéu com o dedo, de maneira displicente – não vê que estou no meu local de trabalho?
- Claro que vejo, que me lembre, ainda não sou cego. – e então pareceu reparar melhor na arma que Mileno carregava nas costas – ora, ora, se não é um mosquete Koninsk 12mm série 68. É... isso costuma fazer um estrago legal, mas nem parece carregada. Não devia ficar brincando com isso, garoto.
- Veio só para elogiar guri ou quer algo comigo? – Irmão Paolo o encarou, impaciente
- Na realidade, estava só de passagem e resolvi dar um "oi". Mas, me interessei pelo "guri", Irmão Paolo. Acho que vou pedir para você deixar ele comigo.
- Sem essa, moleque. Pode esquecer.
- Ah... é assim, Irmão? – e aproximou-se mais – e quem foi que te livrou daquela sua última encrenca, hein? Tá me devendo uma.
- Não acredito mesmo que vai desperdiçar um favor com um guri que você nem conhece. Mas, vá entender a sua excentricidade. – assim, Irmão Paolo deu duas palmadas nas costas de Baby – pode soltar ele, grandão. Agora é daquele moleque ali. – e indicou o homem de chapéu com um aceno de cabeça.
Baby soltou Mileno de qualquer jeito no chão, enquanto ia embora, seguindo o bando do Irmão Paolo. O homem de chapéu chegou mais perto do rapaz e abaixou-se na sua frente, simpático:
- Pode falar hein, te livrei de uma bela encrenca! – e se levantou, oferecendo a mão para Mileno – o que você tá aprontando fora de casa com um amigo velho e temperamental?
- Amigo velho e temperamental? – Milo encarou o homem, sem entender, mas aceitando a ajuda para se levantar.
- É... o mosquete. – e revirou os olhos, ao perceber o olhar de estranheza de Mileno – Já vi tudo. Fugiu de casa e pegou a primeira arma grande e malvada que viu na frente... tsc. Esses jovens de hoje em dia. Mas, me diz, porque fugiu?
- É que estou procurando a minha irmã mais nova. A tal Matilha do Chakal levou ela, depois de atacar a minha vila.
- Poutz! Garoto, você não entende nada da vida mesmo!!! – e deu um empurrão na testa de Milo com a palma da mão - Não se chama A Matilha do Lorde Chakal de "a tal". Desse jeito, duvido que chegue na metade do caminho com vida. Ainda mais com esse jeitão brejeiro de Zyega.
- Como sabe que sou de Zyega?!
- Ah... o Rei da estrada sabe das coisas. – e estufou o peito, parecendo convencido – até porque essa estrada passa por lá, e Zyega é a única vila recentemente atacada pela Matilha. Eles ficaram com o rabo entre as pernas depois que um moleque de lá matou um deles, então estão meio quietos. Sabe... esse é um moleque que eu queria ver... ele tem coragem!
- Bem... – Mileno sorriu, meio sem-graça – sou eu. Eu matei o cara da Matilha.
- Quem... você?! – e o olhou de cima à baixo, totalmente incrédulo – tentando enganar o Rei é? – e então o fitou nos olhos – Pior é que não... você deve ter ficado de tocaia então...
- Na realidade, foi mais ou menos isso sim...
- Poutz!!! – e bateu na própria testa – não se fazem mais jovens como antes mesmo!! Mas, ainda assim te acho corajoso guri. Inocente, mas corajoso. Como não tô fazendo nada melhor te levo até Elvengrado.
- Sério?! – o olhar de Mileno se animou um pouco.
- Sério. Qual é teu nome, guri?
- Mileno. Mileno Folkor.
- Mileno é? – e então se virou, andando rumo à vila mais próxima – Vambora então, Milo.
- Certo, mas, qual é o seu nome mesmo? – quando ouviu isso, o homem estacou imediatamente, e encarou Mileno horrorizado:
- Como assim "qual é seu nome mesmo?" – e disse, imitando o jeito de Mileno de falar – você ousa insinuar que não conhece o Rei da Estrada?!?
- Ahn... não... – o rapaz disse, hesitante.
- Tá legal... você é caipira, então eu te perdôo dessa vez. Preste bem atenção porque vou dizer só uma vez: eu sou Flégias, o Rei dessa Estrada!!!
- Ah! Prazer!!
- "Ah! Prazer!!"? – e suspirou, inconformado – vou nem mais discutir, garoto. Vamos logo pra próxima vila.
- Tá certo!!
E assim Mileno seguiu rumo à Elvengrado, agora acompanhado pelo excêntrico Flégias.
3 comentários:
Olá irmã do Noel ^^
Voce escreve _muito_ bem!
E a história está excelente, não páre =)
Ah... mande uns pontapés nele por mim =D
o/
Olá irmã do Noel xD (copiando do outro comentário hauahu)
Nossa, tá legal mesmo a história.
Agora que apareceu esse Flégias, to curioso pra saber que rumo a história vai levar, e o que vai acontecer lá em Elvengrado ^^
Tenho que concordar com o Leonardo, você escreve muito bem mesmo ^^
Até
Flégias é o máximooooooo
mega engraçado
huehueheuehuue
boa!!!!!
qro mais!! ^^
bjooo
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